A canção “Faroeste Caboclo”, ganhará uma versão no cinema com previsão de lançamento para o segundo semestre de 2011.
Para reproduzir a história do anti-herói João de Santo Cristo, a equipe de produção embrenham-se pelo efervescente cenário cultural do início dos anos 80 e pontuam eventos históricos e verídicos da região como a “Rockonha”.
Em busca da maior fidelidade ao argumento original, as equipes de direção, produção, fotografia e direção de arte de “Faroeste Caboclo” passaram 10 dias em Brasília e arredores à procura dessas locações reais. A proposta é retratar e produzir as cenas no cenário descrito por Renato Russo.
No entanto, muitas pessoas ainda desconhecem o Brasil retratado por Renato Russo na saga de João de Santo Cristo. Para isso, é necessário fazer um breve resgate do cenário em que a música foi composta: Brasil, 1978, regime militar em uma Brasília que mesclava tédio e efervescência da contracultura.
Nas palavras do próprio Renato Russo, no encarte do disco “Que País É Este – 1978-1987”, hoje as músicas podem soar deslocadas por tudo que já passamos. Não existe mais a inocência e estamos longe do tempo onde “Que País É Este” era um perigoso grito de rebeldia.
Para se ter uma noção do peso histórico do comentário de Renato Russo, atualmente, a música é tema da novela “Insensato Coração”, na Rede Globo, principal rede de televisão brasileira.
“Hoje resta a lembrança nostálgica de um tempo que dificilmente vai voltar. Era um tempo onde Freud e Jung ainda eram discutidos seriamente em mesas de bar, onde a rota das drogas passava pela Amazônia e somente de lá para os grandes centros. Não se falava abertamente como hoje de tantas coisas, coisas que toda criança sabe hoje em dia, nem pelos jornais. Drummond estava vivo, John Lennon e Sid Vicious também. Nosso país iria crescer e mudar para melhor e todos acreditaram. Até aí morreu o Neves (trocadilho imperdoável, mas necessário) e cantar que “temos todo o tempo do mundo” porque “somos tão jovens” lembra de um tempo distante, um tempo perdido mesmo”, escreveu Renato Russo, no encarte do disco lançado em outubro de 1987.
Independente do tom nostálgico, e talvez retrô dos comentários, é inevitável recordar da sensação de rebeldia e contestação ao ouvir o “piiiii” ou o slogan da rádio para encobrir os trechos em que Renato Russo citava palavras de baixo calão na letra. Isso para não citar a sensação de prestígio ao comprar um disco com a inscrição no verso: “As faixas [...] não foram submetidas a Divisão de Censura de Diversões Públicas. Não estão autorizadas as suas execuções públicas e radiofônicas”.
Aliás, mercadologicamente falando, “Faroeste Caboclo” poderia ser considerada um exemplo de fracasso comercial: uma música de nove minutos, praticamente falada e que, como confessou Renato Russo, com rimas pobres e que foi vaiada na primeira apresentação ao vivo que ocorreu em um show no Morro da Urca (RJ), em 1983.
No entanto, o grande trunfo da composição, além de ser uma história completa com personagens, começo, meio e fim, retrata um país que poucos querem (ou conseguem) enxergar, mas que continua sendo atual.
Depois de um pouco mais de 30 anos, “Faroeste Caboclo” (agora o filme) ressuscita João de Santo Cristo e expõe as mazelas de um país que ainda busca sua identidade, algumas vezes por caminhos tortos, mas sem perder a esperança.
Se o filme repetirá o sucesso impensado da música ou se conseguirá ser uma versão fiel é outra discussão, mas o grande mérito da produção está na ousadia e no resgate da história recente do Brasil.
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